Vou falar sobre ficção
científica, ou melhor, de uma certa categoria de ficção científica
que podem nos forçar a rever nossas certezas do que é realista ou
não. Alguns exemplos que citarei não são precisamente
“científicos”, mas são quase tão inverossímeis quanto uma
arma de pulso eletromagnético disparada por piratas somalis.
Imaginar como será o futuro sob a ótica da ciência e tecnologia é uma
extensão do velho anseio da humanidade em saber o que nos espera
pela frente. Esse tipo de expectativa do futuro vem desde Julio
Verne, quiçá da Grécia antiga ou de Gilgamesh. Mas a ficção que vou falar não é sobre um modo de vida futuro, mas da ficção científica ambientada no presente, algo ainda mais fascinante porque ninguém pode
garantir que seja de fato ficção.
O filme Matrix deu uma pequena inovada na ficção científica, grudando na parede nossas certezas:
embora a história se passa no futuro, é possível sim que estejamos
vivendo numa Matrix. Da mesma forma que a humanidade presa na Matrix
jamais admitiria tal possibilidade, nós também não. Embora o filme
sacudiu essa nossa certeza, antes dele, outros filmes e romances
levantaram isso mais sutilmente.
Filmes sobre viagens no
tempo são os melhores exemplos. Qualquer um de nós negaria que isso
seja possível. Algo inverossímel, diriam uns. Ninguém admite essa
possibilidade da mesma forma que a humanidade desse universo paralelo
que são os filmes negaria, mas os personagens principais desses
mesmos filmes mostraram que ao menos ali era possível. O filme De
Volta Para O Futuro é um bom exemplo: quem no filme, além de Marty
Mcfly e o Dr. Emmett Brown sabia que a viagem no tempo era possível?
Um exemplo ainda mais inquietante: o filme Um Século em 43 Minutos
(Time After Time) onde ninguém menos que H.G.Wells viaja para o seu
futuro (o nosso presente) a partir do século XIX. E mesmo no século
XX do filme, a viagem no tempo era visto como algo impossível, a
ponto de sua máquina virar peça de museu, sem saberem que ela
realmente funcionava.
Mas o que me motivou a
escrever sobre isso foram as opiniões nesse tema a respeito dos
filmes de James Bond/007, da qual sou um fã de carteirinha. É comum
ouvir que os filmes antes do inconveniente reboot eram irrealistas.
Não acho totalmente, ou pelo menos, dou-lhes o benefício da dúvida,
como nos exemplos acima. Meros mortais querendo dominar o mundo, ou
extorqui-lo ou manipulá-lo?! Impossível, diriam. O restante da humanidade que não aparece no filme diriam isso mesmo. Será mesmo impossível um
bilionário engenhoso e muito ambicioso tentar dominar o mundo e ter seus planos frustados por um agente secreto que obviamente ninguém sabe de sua existência e de seus atos?
Acho que não, embora seja improvável...ou não.
Uma cena clássica
dessa mesma série, que fomenta esse tipo de comentário é a do
carro submarino de 007 O Espião Que Me Amava. Ninguém nunca viu
algo assim, nem mesmo os atônitos banhistas do filme que em seguida
viram o carro saindo do mar. Até então, a opinião dos banhistas
era a mesma que a nossa: esse tipo de coisa não existe, até porque
esse tipo de invenção seria de uso exclusivo e ultra-secreto, ou
seja, é para todos negarem sua existência mesmo.
Numa época em que
extra-terrestres, armas que bagunçam o clima e falhas geológicas, e
até “sereias” constituem a ficção da vida real – que pode
ser real ou não – porque consideramos como pura ficção coisas
como viagem no tempo, ou carros com banco ejetor, ou mesmo uma
dimensão paralela onde existem lindos unicórnios? Existe ficção
possível e ficção impossível. O que é meio difícil para nós,
leigos, é fazer essa separação. O bule voador do Richard Dawkins,
por exemplo, seria algo plausível como um lixo espacial largado por
algum cosmonauta russo descuidado, a menos que na gravidade zero seja
impossível ingerir líquido num bule...
Levantar possibilidades não é criar certezas. O problema é quando "certezas" transformam fatos em ficção e ficção em fatos.
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